Era um homem casado, que tinha um rapaz que
lhe guardava os porcos. Indo o rapaz uma vez para o pasto, chegou-se um homem a
ele dizendo:
— Vendes-me esses sete porcos?
— Não vendo senão seis; mas o tio há de
dar-me já os rabos e orelhas deles.
Ficou o contrato feito; o rapaz recebeu o
dinheiro, e logo ali cortou as orelhas e os rabos dos seis porcos. Chegando a
um charco, espetou no lodo as orelhas e os rabos dos seis porcos, e enterrou o
sétimo porco até meio do corpo. E foi logo a gritar ter com o amo, para o vir
ajudar a tirar os porcos, que tinham caído no charco. Veio o amo, e assim que
puxou vieram-lhe os rabos na mão; com medo de perder os porcos todos, disse ao
criado:
— Vai a casa e diz à minha mulher que te dê
duas pás, para puxarmos os porcos cá para fora.
O criado que sabia que o amo tinha duas sacas
de dinheiro, chegou a casa e disse à mulher:
— O patrão manda dizer que me entregue as
duas sacas de dinheiro.
A mulher desconfiou; mas o criado disse que
ela chegasse ao balcão, e perguntasse se eram ou não as duas. Pergunta a mulher
de cá:
— Ambas de duas?
— Sim, dá-lhe ambas de duas.
A mulher não sabia que eram as pás, e
entregou-lhe as sacas do dinheiro.
O rapaz agarrou-as e foi-se por outro
caminho, e encontrando um veado, matou-o e tirou-lhe as tripas, que meteu por
dentro da camisa. Chegando perto de um homem que conhecia o patrão dele,
começou a dizer:
— Deixa-me retalhar as tripas.
E pôs-se a cortar as que tinha do veado; o
patrão quando chegou a casa e soube da ladroeira do criado, correu atrás dele,
e encontrou no caminho o seu conhecido, a quem perguntou se tinha visto passar
por ali o moço.
Ele respondeu:
— Vi, e ele fez uma coisa; tirou as tripas e
cortou-as para correr mais depressa.
— Também eu vou fazer o mesmo para o apanhar.
E cortando as tripas caiu morto. O moço
quando soube isto voltou para trás e foi ter com a patroa, que estava viúva, e
casou com ela.
---
Ano de publicação: 1883
Origem: Portugal (Ilha de São Miguel)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2021)
Nenhum comentário:
Postar um comentário