terça-feira, 7 de dezembro de 2021

O cego e o moço (Conto popular português), de Teófilo Braga

 

 O CEGO E O MOÇO

Um cego andava pedindo esmola pela mão de um moço; a uma porta deram-lhe um naco de pão e um bocado de linguiça. O moço pegou no pão e deu-o ao cego para metê-lo na sacola, e ia comendo a linguiça muito à sorrelfa. O cego, desconfiado, pelo caminho começa a bradar com o moço: 

– Ó grande tratante, cheira-me a linguiça! Acolá deram-me linguiça e tu só me entregaste o pão. 

– Pela minha salvação, que não deram senão pão. 

– Mas cheira-me a linguiça, refinado larápio! 

E começou a bater com o bordão no moço pancadas de criar bicho. O moço era ladino e disse lá para si que o cego lhas havia de pagar. Quando iam por uns campos onde estavam uns sobreiros, o moço embicou o cego para um tronco, e grita-lhe: 

– Salta, que é rego. O cego vai para saltar e bate com os focinhos

 

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Ano de publicação: 1883
Origem: Portugal
(Trancoso)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)

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