terça-feira, 16 de novembro de 2021

Os três moços (Conto popular brasileiro), de Sílvio Romero

 

OS TRÊS MOÇOS

Diz que foi um dia havia em um reino uma princesa muito bonita. Um dia apareceram três moços, cada qual querendo casar-se com ela. Para decidir a questão, o rei disse que a princesa só se casaria com aquele que trouxesse uma coisa que mais lhe causasse admiração.

Os três moços saíram. Quando chegaram em uma estrada se despediram e marcaram um dia para se acharem todos os três naquele mesmo lugar. Separaram-se, e cada qual tomou o seu caminho. 

O primeiro caminhou muito até que deu em uma cidade. Quando ele ia passando por uma rua, ouviu um menino gritando:

 — Quem quer me comprar um espelho?

Ele chegou-se para o menino e disse:

 — Menino, que virtude este espelho tem?

O menino respondeu:

 — Este espelho tem a virtude de ver tudo o que se passa em todo lugar.

O moço disse:

 — Bravo, sou eu que me caso com a princesa — e comprou o espelho. 

O outro moço também caminhou muito e deu noutra cidade. Quando ele ia passando por uma rua, ouviu um homem gritando:

 — Quem quer me comprar uma bota?

Ele chegou junto do homem e disse:

 — Meu senhor, que virtude tem essa bota?

O homem respondeu:

 — Esta bota tem o poder de botar a gente no lugar que se quer.

O moço disse:

 — Bravo, sou eu que me caso com a princesa — e comprou a bota. 
O terceiro moço também caminhou. Caminhou, até que deu também numa cidade. Quando ele viu, foi um menino gritando:

 — Quem quer comprar um cravo que tem a virtude de dar vida a quem está morto?

O moço disse consigo: "Bravo, sou eu que me caso com a princesa” — e comprou o cravo.

Quando chegou o dia marcado, se acharam todos os três na mesma estrada. O moço do espelho foi e abriu o espelho. Quando ele abriu o espelho viu a princesa estirada, morta. O moço da bota disse:

 — Não tem nada; se metam aqui dentro desta bota.

Se meteram todos os três dentro da bota, e o moço disse:

 — Bota, nos bota no reino da rainha Fulana.

No mesmo instante estavam lá. Quando chegaram lá, acharam a princesa morta. O moço do cravo foi e botou o cravo no nariz da princesa.

Quando viram, foi ela se levantar viva. Agora disse o moço do espelho:

 — Eu sou que devo me casar com a princesa, porque se não fosse meu espelho, vocês não sabiam que ela estava morta.

Diz o moço da bota:

 — Eu sou que devo me casar com a princesa, porque, se não fosse minha bota, vocês ainda não estavam aqui.

Diz o moço do cravo:

 — Quem deve se casar com a princesa sou eu, porque, se não fosse meu cravo, ela não estava viva.

Ainda hoje estão nesta peleja, querendo cada qual se casar com a princesa, e o rei sem saber quem escolherá para noivo.

Entrou por uma porta,
Saiu por um canivete,
Diga a el-rei meu senhor
Que me conte sete.

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Ano de publicação: 1883
Origem: Sergipe (Brasil)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)

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