terça-feira, 16 de novembro de 2021

O cágado e a festa no céu (Conto popular brasileiro), de Sílvio Romero

 

O CÁGADO E A FESTA NO CÉU

Uma vez houve três dias de festa no céu; todos os bichos lá foram; mas nos dois primeiros dias o cágado não pôde ir, por andar muito devagar. Quando os outros vinham de volta, ele ia no meio do caminho. No último dia, mostrando ele grande vontade de ir, a garça se ofereceu para levá-lo nas costas. O cágado aceitou, e montou-se; mas a malvada ia sempre perguntando se ele ainda via a terra, e quando o cágado disse que não avistava mais a terra, ela o largou no ar e o pobre veio rolando e dizendo: 

Léu, léu, léu,
Se eu desta escapar,
Nunca mais bodas ao céu... 

E também:

 — Arredem-se, pedras, paus, senão vos quebrareis.

As pedras e paus se afastaram, e ele caiu; porém todo arrebentado. Deus teve pena e juntou os pedacinhos e deu-lhe de novo a vida em paga da grande vontade que ele teve de ir ao céu. Por isso é que o cágado tem o casco em forma de remendos. 


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Ano de publicação: 1883
Origem:
Sergipe
(Brasil)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)

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