terça-feira, 16 de novembro de 2021

A Mãe d’Água (Folclore brasileiro), de Sílvio Romero

 

 A MÃE D’ÁGUA 

Foi uma vez havia uma princesa, que era filha de uma fada e do rei da Lua. A fada ordenou que a princesa fosse a rainha de todas as águas da terra, e governasse todos os mares e rios. A Mãe d’Água, assim se ficou chamando a princesa, era muito bonita, e muitos príncipes se apaixonaram por ela. Mas foi o filho do Sol que veio a se casar com ela, ao depois de ter vencido todos os seus rivais em combate.

Quando se deu o casamento houve muitas festas e danças e banquetes, que duraram sete dias e sete noites. As festas foram na casa do rei da Lua; acabadas elas os noivos partiram para a casa do Sol. Aí a princesa Mãe d’Água disse ao seu marido que desejava passar com ele todo o ano, exceto três meses que havia de passar com sua mãe. O príncipe consentiu, porque fazia em tudo a vontade de sua mulher. Todos os anos a Mãe d’Água ia passar com sua mãe debaixo do mar num rico palácio de ouro e de brilhantes os três meses do contrato.

No cabo de muito tempo a nova rainha deu à luz um príncipe.  Quando a princesa teve de ir de novo visitar a fada, sua mãe quis levar o principezinho, mas o rei não consentiu; e tanto rogou e pediu, que a rainha partiu sozinha, recomendando ao marido que tivesse muito cuidado no filho. Chegando no palácio da fada, a princesa a não encontrou porque ela estava mudada em flor. A moça desesperada começou a correr mundo, procurando a sua mãe. Então ela perguntou aos peixes dos rios, às areias do mar, às conchas das praias por sua mãe, e ninguém lhe respondia. Tanto sofreu e se lastimou que afinal o Rei das Fadas teve pena dela e perdoou a sua mãe, que se desencantou. Ambas, mãe e filha se largaram à toda a pressa para a casa do rei filho do Sol. Mas tinha-se já passado tanto tempo que o rei, vendo que sua esposa não vinha mais, ficou muito desesperado.

Correu então o boato que a rainha tinha-se apaixonado por um príncipe estrangeiro e tinha por isso deixado de voltar. O rei, visto isto, se casou com outra princesa, que começou logo a maltratar muito o principezinho, botando-o na cozinha como um negro. Quando a rainha ia chegando a primeira pessoa que viu foi seu filho todo maltratado e sujo, e logo o conheceu e soube de tudo. Ela fugiu então com ele para o fundo das águas, e por sua ordem elas começaram a subir, até cobrirem o palácio, o rei, a rainha e todos os embusteiros da corte. Nunca mais ninguém a viu, porque quem a vê fica logo encantado e cai n'água e se afoga. 


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Ano de publicação: 1883
Origem: Rio de Janeiro (Brasil)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)

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