O TOURO E O RATINHO
Embora
o touro, muitas vezes, se voltasse, de um lado para o outro, para malferir o
ratinho, este sempre escapava e se escondia numa toca. Depois, voltava para
importunar o touro. Isto se repetiu com tanta frequência que o touro ficou
bastante irritado. E, embora fosse grande e robusto, não podia vingar-se do inoportuno
animalejo, porquanto somente podia acompanhá-lo com o olhar. O ratinho
suportava pacientemente aquela ira, pois sabia que estava a salvo das
investidas do enorme touro.
—
Embora a Natureza — disse o ratinho ao touro — te tenha favorecido com corpanzil,
nem por isto tu me podes causar algum malefício. A meu turno, conquanto
pequeno, posso perturbar-te à vontade, malgrado sejas assim tão grande. E,
apesar de teu tamanho, tu não podes vingar-te de mim. Para que conheças verdadeiramente
o teu poder, digo-te, em poucas palavras: amolda-te à vontade dos teus súditos
e não os menosprezes. Assim, poderás usar de teu poderio e força livremente.
Isto
quer dizer que os senhores e poderosos devem estar em conformidade com os
súditos e não os devem menosprezar, por pequeninos que sejam, se querem
preservar o seu estado e honra.
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Versão em
português de Paulo Soriano, a partir de tradução anônima espanhola de 1489.
Ilustrações de
autor anônimo do século XVI (Edição de Juan Cromberger, Servilha, 1521).
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