O GANSO E O ALDEÃO
Porém, pensando sobre donde poderiam vir
aqueles ovos, acreditou o homem que algum tesouro o ganso deveria ocultar em
suas entranhas, da qual o tirava paulatinamente. E, em sua ambição, para que
pudesse assenhorar-se de vez de todo aquele tesouro, matou o ganso. Depois,
abrindo-lhe o ventre, procurou o tesouro por todas as partes, mas nada
encontrou.
Destarte,
porque morta jazia a ave, perdeu toda a esperança. E, admitindo a sua grande
culpa, após muito meditar sobre a loucura em que havia caído, houve de suportar,
entre suspiros e gemidos, a dor e o infortúnio. Isto estava em conformidade com
a razão, eis que, porque era rico e ambicioso demais, perdeu a fonte de sua
riqueza, e calhava que suportasse consciente e pacientemente aquelas penas.
Convém,
pois, a cada um que se contente com o que os Deuses lhes deram e não tenha por
pouco o que lhe é razoável, mas, antes, agradeça-lhes por isso, e não perca o
que tem no intento de alcançar outras coisas maiores.
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Versão em
português de Paulo Soriano, a partir de tradução anônima espanhola de 1489.
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