Um lavrador e a sua mulher tinham um grande
desgosto por lhe morrer o único filho; quando o lavrador ia caminho da cidade,
passando ao pé de uma palmeira que estava perto de uma oliveira, viu um caixote
com uma chave pendurada; abriu e encontrou dentro um menino muito asseado, com
uma bolsa de dinheiro, e duas cartas uma sem sobrescrito, e outra que
dizia: Para quem achar este menino.
O lavrador leu a carta e soube que era para tomar conta da criança e dá-lo a
criar à sua mulher, e que quando ele fosse homem, lhe dessem a outra carta para
ele só abrir em ocasião que se visse em grande aflição. O lavrador e a mulher
ficaram muito contentes por aquele achado, e puseram ao menino o nome de Palmeiriz de Oliva, por ter sido trazido
do pé da palmeira da estrada ao pé da oliveira. Ao fim de um ano vieram três
cavaleiros à porta do lavrador, já fora de horas, e entregaram-lhe uma trouxa:
— Tome conta dessa menina, que já vem
batizada; chama-se Rosa. E aí lhe fica bastante dinheiro para a sua criação. —
E partiram à pressa.
As duas crianças foram crescendo, e tinham
muito amor um ao outro e julgavam que eram filhos dos lavradores. Um belo dia
parou uma carruagem à porta do lavrador; eram os cavaleiros que vinham buscar a
menina que já estava grande. O lavrador sentiu aquela separação, e Palmeiriz
chorou a mais não poder. Rosa ainda lhe pôde dizer que nunca o esqueceria, e já
que agora sabia que não era irmã dele, que não casaria com mais ninguém a não
ser com Palmeiriz.
O pobre rapaz andava triste e queria ir pelo
mundo procurar aquela que tantos anos julgara sua irmã; o lavrador deu-lhe
dinheiro, mais a carta, e ele foi à ventura, e passou muitos trabalhos até que
chegou ao palácio do rei, que gostou tanto dele que o tomou para seu criado, e
não saía da sua companhia. Palmeiriz andava sempre triste por não ter sabido
mais de Rosa.
O rei resolveu a casar-se e mandou vir
retratos de muitas princesas; escolheu um, e avisou para a corte donde essa
princesa era. Quando mostrou o retrato a Palmeiriz, ele conheceu logo Rosa e
desmaiou; o rei fê-lo voltar a si, e então ele contou como o retrato se parecia
com uma irmã de criação que nunca mais tinha visto, e que ele muito amava. O
rei mandou pedir a princesa, mas o pai escreveu-lhe, que ela não queria casar
com ninguém e só se o rei fosse à sua corte pessoalmente, ou se lhe mandasse
também o seu retrato.
O rei não pôde ir, mas mandou o seu retrato
por Palmeiriz de Oliva. Chegado à corte o pai de Rosa chamou-a para vir receber
a mensagem e o retrato; mas a princesa assim que viu o seu irmão de criação deu
um grande grito, e botou-se ao pescoço do pai, dizendo:
— Meu pai, este é que Deus destinou para meu
marido. E contou tudo ao pai, como tinha vivido com Palmeiriz até o dia em que
a foram buscar. O rei escreveu então uma carta ao seu amigo, contando-lhe o
caso, e como Rosa só queria casar com Palmeiriz.
— Eu podia mandar-te matar, disse o amo de
Palmeiriz, mas como sempre tive por ti muita estima é que o não faço. Quero ter
contigo um duelo, sem que ninguém o saiba, mas em que um de nós há de morrer.
Palmeiriz opôs-se àquela prova, porque não
podia levantar mão para o seu benfeitor, e quando estava no seu quarto muito
aflito, encontrou a carta destinada a ser aberta quando se visse em alguma
grande aflição. Abriu a carta, e por ela soube que estava em casa de seu
próprio pai; correu a contar ao rei tudo, e este abraçou-o, dizendo que ele
mesmo é que tinha escrito aquela carta para o tornar a achar, quando como seu
filho natural o deu a criar em segredo, para o salvar do ódio da rainha, que
não tinha filhos. O próprio rei partiu com Palmeiriz para a corte do pai de
Rosa e lá se fez o casamento, que ia sendo causa de tanta desgraça e que se
tornou de tanta felicidade.
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Ano de publicação: 1883
Origem: Portugal (Algarve)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2021)
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