sábado, 25 de dezembro de 2021

O compadre lobo e a comadre raposa (Conto Popular), de Adolfo Coelho

 

O COMPADRE LOBO E A COMADRE RAPOSA

Era uma vez um homem casado com uma mulher chamada Maria, e tinham por compadres um lobo e uma raposa. Um dia disseram eles ao lobo e à raposa:

Olhem, compadres, é preciso fazer uma grande festa cá em casa e por isso vê tu, compadre, se me trazes alguns carneiros e ovelhas para o jantar, e tu, comadre raposa, arranja galinhas e patos, pois nós queremos que o banquete seja falado em toda a vizinhança.

O lobo e a raposa responderam:

Oh, fiquem descansados, compadres, que não lhes há de faltar o que desejam.

Desde esse dia o lobo e a raposa todas as noites levaram gado para casa dos compadres, de sorte que eles já não cabiam em si de contentes. Chegado o dia da festa, lá foram o lobo e a raposa assistir à função, e, quando chegaram, viram que os compadres tinham uma grande caldeira de água a ferver e um espeto metido no fogo. O lobo perguntou:

Ó comadre, para que é esse espeto?

É para assar as galinhas — respondeu a Maria.

E palavras não eram ditas, o homem a pegar na caldeira e a deitar a água a ferver em cima do lobo e a mulher a meter o espeto pelos olhos da raposa. Escusado é dizer que ao lobo lhe caiu a pele e a raposa ficou cega.

Passara-se já bastante tempo e os compadres nem se lembravam do que tinham feito, quando o homem, andando um dia no mato a apanhar lenha, viu correr para ele o compadre lobo e receando que ele o matasse subiu para cima de uma árvore.

Então o lobo disse-lhe de baixo:

Tu pensas que me escapas! Espera que eu te ensino.

E dito isto, começou a chamar pelos outros lobos e logo vieram muitos e ele então disse-lhes:

É preciso matar aquele homem que ali está em cima e para lá chegar é preciso que se ponham todos em cima uns dos outros; eu ficarei por baixo, porque tenho mais força.

Já os lobos, postos uns sobre os outros, estavam quase a chegar ao compadre quando ele gritou com toda a força: “ó Maria, traz cá a caldeira de água a ferver.” O lobo, logo que isto ouviu, pernas para que te quero e os outros que estavam sobre ele caíram todos no chão; depois, desesperados, correram sobre o lobo que tinha fugido e castigaram-no.

O compadre voltou para casa e contou tudo à mulher e nunca mais quiseram voltar ao mato. Pudera. Tão maus haviam sido para o lobo e a raposa que passaram a ter medo deles.


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Ano de publicação: 1879.
Origem: Portugal.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)

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