Havia um príncipe, que foi passear; no meio
de uma estrada encontrou uma velhinha, e o príncipe pediu à velha a sua bênção.
Ela deu-lhe três nozes, e lhe disse:
— Meu príncipe, não partas estas nozes senão
perto de água.
Ele foi para diante, e partiu uma das nozes.
Saiu uma menina muito linda, que lhe pediu água. Como ele não tinha água, ela
morreu. Mais para diante, partiu outra noz; sucedeu o mesmo, não haver água e a
menina morreu. O príncipe prometeu a si mesmo de não tornar a partir a última
senão ao pé da água. Chegando a uma fonte, partiu a derradeira noz; saiu uma
menina, que lhe pediu água, ele deu-lha e a menina viveu. O príncipe muito
contente levou-a consigo até ao jardim do palácio do rei seu pai, e aí a meteu
entre a ramada de uma árvore, que tinha uma fonte por baixo, e foi-lhe buscar
vestidos para a trazer para a corte. Uma preta vinha à fonte com um potinho de
barro e viu na água a cara da menina; pensando ser a sua cara, quebrou o pote
dizendo:
— Uma cara tão linda não vem à fonte!
A mãe batia-lhe, e ela repetia sempre o
mesmo; a mãe chamava-lhe tola, até que lhe deu um odre para ir à fonte, porque
assim não o quebrava. A preta foi, e lavou a cara, e olhando para cima viu a
menina, e foi a casa chamar a mãe. A mãe veio e perguntou à menina como é que
ela tinha ido para ali. Ela contou, e a mãe chamou a menina e começou a dar-lhe
matadelas na cabeça, e vai senão quando mete-lhe dois alfinetes reais nas
fontes, donde a menina se tornou em pombinha branca e voou por esses ares fora.
A preta pôs a filha no lugar da menina; veio o príncipe e ficou espantado de a
ver tão negra. Ela respondeu-lhe:
— Os ardores do sol, o vento e a chuva me
enegreceram.
O príncipe ficou pelo que ela dizia, levou-a
para o palácio, e estava já para recebê-la, quando lhe veio uma grande doença,
que não lhe sabia nada com fastio. O jardineiro viu uma pombinha, que falava e
dizia:
Eu ando de galho em galho,
De flor em flor,
Ai que dor!
E a pombinha voava e tornava a dizer:
Eu ando da hortelã para o loureiro,
À roda da minha horta;
Como irá o príncipe
Com a sua esposa preta Carlota?
O jardineiro foi contar tudo ao príncipe, que
mandou untar todas as árvores de visco, para apanhar a pombinha. Apanhou-se a
pombinha, e a preta logo desejou os fígados dela. O príncipe não quis que ela
se matasse; indo-lhe a fazer festa, ao passar a mão pela cabeça da pombinha
achou os dois alfinetes e puxou-os; ela tornou-se outra vez na menina, e o
príncipe muito contente casou com ela, e mandou matar a preta e a mãe da preta.
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Ano de publicação: 1883
Origem: Portugal (Ilha de São Miguel
— Açores)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2021)
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