quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Os carneiros jurados (Fábula), de Monteiro Lobato

 

OS CARNEIROS JURADOS

Certo pastor, revoltado com as depredações do lobo, reuniu a carneirada e disse:

— Amigos! É chegado o momento de reagir. Sois uma legião e o lobo é um só. Se vos reunirdes e resistirdes de pé firme, quem perderá a partida será ele, e nós nos veremos para sempre libertos da sua cruel voracidade.

Os carneiros aplaudiram-no com entusiasmo e, erguendo a pata dianteira, juraram resistir.

— Muito bem! — exclamou o pastor. Resta agora combinarmos o meio prático de resistir. Proponho o seguinte: quando a fera aparecer, ninguém foge; ao contrário: firmam-se todos nos pés, retesam os músculos, armam a cabeça, investem contra ela, encurralam-na, imprensam-na; esmagam-na!

Uma salva de bés selou o pacto e o dia inteiro não se falou senão na tremenda réplica que dariam ao lobo.

Ao anoitecer, porém, quando a carneirada se recolhia ao curral, um berro ecoou de súbito:

— O lobo!...

Não foi preciso mais: sobreveio o pânico e os heróis jurados fugiram pelos campos a fora, tontos de pavor.

Fora rebate falso. Não era lobo; era apenas sombra de lobo!...

Ao carneiro só peças lã.

 

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Ano de publicação: 1922.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)

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