Um gato de nome Faro-Fino deu de fazer tal
destroço na rataria duma casa velha que os sobreviventes, sem ânimo de sair das
tocas, estavam a ponto de morrer de fome.
Tomando-se muito sério o caso, resolveram
reunir-se em assembleia para o estudo da questão. Aguardaram para isso certa
noite em que Faro-Fino andava aos miados pelo telhado, fazendo sonetos à lua.
— Acho — disse um deles — que o meio de nos
defendermos de Faro-Fino é lhe atarmos um guizo ao pescoço. Assim que ele se
aproxime, o guizo o denuncia, e pomo-nos ao fresco a tempo.
Palmas e bravos saudaram a luminosa ideia. O
projeto foi aprovado com delírio. Só votou contra um rato casmurro, que pediu a
palavra e disse:
— Está tudo muito direito. Mas quem vai
amarrar o guizo no pescoço de Faro
— Fino?
Silêncio geral. Um desculpou-se por não saber
dar nó. Outro, porque não era tolo. Todos, porque não tinham coragem. E a
assembleia dissolveu-se no meio de geral consternação.
Dizer é fácil; fazer é que são elas!
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Ano de publicação: 1922.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes
(2021)
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