Caminhavam dois burros, um com uma carga de
açúcar, outro com uma carga de esponjas.
Dizia o primeiro:
— Caminhemos com cuidado, porque a estrada é
perigosa.
O outro arguiu:
— Onde está o perigo? Basta andarmos pelo
rastro dos que hoje passaram por aqui.
—Nem sempre é assim. Onde passa um, pode não
passar outro.
— Que burrice! Eu sei viver, gabo-me disso, e
minha ciência toda se resume em só imitar o que os outros fazem.
— Nem sempre é assim, nem sempre é assim...
continuou a filosofar o primeiro.
Nisto alcançaram o rio, cuja ponte caíra na
véspera.
— E agora?
— Agora é passar a vau.
O burro de açúcar meteu-se na correnteza e,
como a carga ia se dissolvendo ao contato da água, conseguiu sem dificuldade
pôr pé na margem oposta.
O burro da esponja, fiel às suas ideias,
pensou consigo:
— Se
ele passou, passarei também — e lançou-se ao rio.
Mas sua carga, em vez de esvair-se como a do
primeiro, cresceu de peso a tal ponto que o pobre tolo foi ao fundo.
— Bem
dizia eu! Não basta querer imitar,
é preciso poder imitar — comentou
o outro.
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Ano de publicação: 1922.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2021)
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