Ela virou-se para ele e respondeu: “Adeus,
minha rosa.” O caboclo saiu rindo-se de contente e no outro dia já não disse
“Adeus, meu cravo”, e sim perguntou à moça se ela dava licença a ele ir à casa
dela à noite. A senhora ficou incomodadíssima e não deu-lhe resposta. Chegando
o marido, ela participou-lhe o ocorrido, ao que ele respondeu: “Amanhã dize-lhe
que eu fiz uma viagem e que tu dás licença para ele vir conversar contigo à
noite.” Quando o caboclo passou dirigiu à moça a mesma pergunta, esta
respondeu-lhe tudo quanto o marido tinha lhe dito. À noite chegou o caboclo,
indo muito cheiroso e bem vestido. Já o marido da moça tinha munido dois
criados, cada qual com um chicote de couro cru, e mandado deitar debaixo da
cama grande porção de cansanção.
O caboclo logo que foi chegando disse à moça que queria ir para o quarto e que ela apagasse a luz que o estava incomodando. Depois tirou toda a roupa com que estava vestido e deitou-se dizendo que estava com muito sono. Nisto o marido da moça fingiu ter chegado da viagem e esta disse ao caboclo que se escondesse debaixo da cama. O moço entrou e deitou-se, alegando que vinha muito cansado. De espaço a espaço ele ouvia como que uma espécie de grunhido sair debaixo da cama. Passado um bom pedaço e o rapaz ouvindo sempre a mesma coisa, perguntou: “Quem está aí?” Responde-lhe o caboclo: “Sou eu, cachorro.” Diz o moço: “Oh, e cachorro fala?” Replica-lhe o caboclo: “Falo eu.” Aí o moço levantou-se e com uma luz na mão olhou para debaixo da cama e viu o caboclo no meio dos cansanções, inchado como uma pipa e todo se coçando. O moço chamou os criados que já estavam preparados e ordenou: “Empurrem-lhe o chicote”.
O caboclo depois de ter levado uma tunda, saiu que mal acertava o caminho de casa. Levou muito tempo se tratando da grande surra que levou.
Depois de muito tempo e quando já estava bom,
passou de novo o caboclo pela porta da moça, mas muito desconfiado e de cabeça
baixa. Esta para bulir com ele disse-lhe: “Adeus, meu cravo.” Ele virou-se para
ela e respondeu muito zangado: “Adeus, seu diabo!”
Ano de publicação: 1883
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