quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Os três ministros (Histórias da avozinha), de Figueiredo Pimentel

 

OS TRÊS MINISTROS

Miramil III, grande e poderoso monarca, tinha três ministros que se gabavam de saber tudo quanto havia, quando não passavam de homens vulgares.

Uma vez, saindo a passeio com eles, encontrou um velho, que lhes tirou respeitosamente o chapéu.

— Quanta neve vai pela serra! disse o rei.

— Já é tempo dela, real senhor, respondeu o velho roceiro.

— Quantas vezes já queimaste a casa?

— Duas, real senhor.

— Quantas vezes tens de queimá-la?

— Três, real senhor.

— Se eu te mandar três patos, serás capaz de mos depenar?

— Quantos mandardes, real senhor.

Saindo dali o soberano ordenou que os três ministros respondessem o que ele havia conversado com o velho, sob pena de serem enforcados.

Os sabichões pediram uma semana de espera. Leram quantos livros encontraram, mas não puderam entender o que queria dizer o rei.

Resolveram, então, ir consultar o velhote às escondidas.

O velho comprometeu-se a responder com a condição de lhe darem eles a roupa que traziam consigo.

Os ministros aceitaram. Despiram-se.

— Quanta neve vai pela serra, quer dizer que já tenho a cabeça muito branca, e por isso respondi que já era tempo dela, pois já era bem velho. Queimar a casa, é casar uma filha, porquanto quem casa uma filha, gasta tanto, como se tivesse tido um incêndio. E os três patos para depenar, são os senhores. 

 Quando o ancião acabou de falar, apareceu o rei, que se achava escondido.

Os três ministros ficaram com medo, mas o monarca sossegou-os. Não os mandou matar, condenou-os, porém, a dar bons dotes às três filhas do velho que ainda estavam por casar.

 

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Ano de publicação: 1896.
Origem: Brasil (Reconto)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)

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