Um pai tinha um filho e uma filha e costumava mandá-los ao mato buscar lenha. Um dia os meninos foram e perderam-se no caminho. Depois de terem caminhado muito, avistaram uma luz; foram-se aproximando e viram junto da luz uma casa; entraram e viram uma bruxa que estava fritando filhós; a bruxa tinha só um olho, no meio da testa e por isso não viu logo os meninos. Ora os meninos, como iam com muita fome, tiraram com muito jeitinho as filhós, e a bruxa, julgando ser o gato que as tirava, dizia:
Sape, gato lambão,
Logo te dou teu quinhão.
E continuava a fritar; e os meninos, vendo o engano da bruxa, deram uma gargalhada. Ela então olhou para eles e disse: “Sois vós, meus meninos? Vinde cá.” Pegou nos meninos e meteu-os dentro de uma arca de castanhas, recomendando-lhes que comessem bastante até estarem bem gordinhos. Os meninos iam comendo as castanhas, e a bruxa disse-lhes um dia:
— Metei o dedinho pelo buraco da fechadura para eu ver se já estais gordinhos.
Os meninos, em vez de meterem os dedinhos, meteram o rabo de um ratito que tinham achado na arca. A bruxa disse ao vê-lo:
— Ainda estais muito magrinhos; continuai a comer.
Passado tempo, tornou outra vez a dizer aos meninos que deixassem ver os dedinhos e eles não tiveram remédio senão mostrar-lhos, pois já não tinham o rabo do rato. Então a bruxa disse-lhes:
— Agora já podeis sair da arca, pois já estais bem gordinhos.
Depois disse aos meninos que fossem buscar lenha para aquecer o forno; e deu-lhes um pão, recomendando-lhes que comessem só o miolo, mas que não o partissem; deu-lhes também uma cabaça de vinho, dizendo-lhes que o bebessem sem lhe tirar a rolha; deu-lhes mais dois punhados de tremoços, dizendo-lhes que os comessem e deitassem as cascas pelo caminho, para depois se guiarem por elas quando voltassem para casa.
Partiram os meninos para o mato; no caminho encontraram uma velhinha que lhes perguntou para onde eles iam. Os meninos contaram-lhe tudo o que lhes tinha sucedido e disseram-lhe que tinham fome, mas que não sabiam como haviam de comer o pão sem o partir.
Então a velhinha fez-lhes um buraquinho no pão, tirou o miolo e deu-o aos meninos; depois fez também um buraquinho na cabaça para os meninos beberem o vinho e disse-lhes que fossem apanhar a lenha, que ela os esperava no caminho. Voltaram os meninos do mato e encontraram outra vez a velhinha, que lhes disse:
— Meus meninos, a bruxa vai aquecer o forno para vos assar; ela há de dizer-vos que danceis na pá e vós haveis de dizer-lhe: “dançai vós primeiro que é para nós aprendermos.” Depois ela dançará, e vós direis: “Valha-me Nossa Senhora e São José” e deitai-a no forno.
Levaram os meninos a lenha; a bruxa aqueceu o forno e disse aos meninos:
— Dançai aqui na pá.
— Dançai vós primeiro para nós aprendermos.
A bruxa pôs-se a dançar na pá e os meninos disseram:
— Valha-me Nossa Senhora e São José e deitaram a bruxa para dentro do forno.
A bruxa deu um grande estoiro e morreu, e os meninos voltaram para casa de seu pai e levaram o dinheiro que a bruxa tinha em casa.
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Ano de publicação: 1879.
Origem: Portugal.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)
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