terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Órion ou os três Reis Magos (Lenda Indígena), de Barbosa Rodrigues

 

ÓRION OU OS TRÊS REIS MAGOS
(Lenda Macuxi) 

Contam que havia três homens irmãos, dois solteiros e um casado, que tinha mulher; os dois moravam longe do casado. Daqueles dois, um era feio, e dizem que o irmão bonito lhe deitava os olhos; por isso procurava meios de matá-lo. Um dia aguçou um pau, apontou-o bem, e depois disse ao irmão:

— Meu mano, vamos apanhar urucum para pintar nosso corpo?

— Vamos.

— Meu mano, sobe tu para apanhar para nós.

Dizem que, então, o irmão feio subiu e em cima abriu as pernas num galho; então o irmão de baixo o espetou. Morreu logo e caiu no chão.

O irmão cortou as pernas, deixou o cadáver, virou-se e foi-se embora. Dizem, que logo depois veio a cunhada, de passeio, ter com eles.

— Como estás, meu, cunhado?

— Como hei de estar? Bem.

— Como está o outro meu cunhado?

— Está fora passeando.

— Ah! Pode ser.

Contam que a cunhada saiu para passear no mato e, dando volta por detrás da casa, achou o corpo de seu cunhado com as pernas cortadas e separadas. Depois a seu turno chegou também o cunhado.

— Para que me servem as pernas cortadas? Para nada. Agora só estão boas para os peixes comer. Então, dizem, que o irmão pegou nas pernas e as pôs no rio, virando-se logo elas em surubim. O corpo ficou ali por terra, mas a alma foi-se embora para o céu. Chegando no céu virou-se em estrelas. O corpo ficou no centro e as pernas dos lados, uma de cada lado. Tornou-se logo o Epépim.

O irmão assassino transformou-se na estrela Caiuanon (Vênus), e o irmão casado noutra estrela Itenhá (Sirius). Ficaram os dois fronteiros ao irmão que mataram para perpetuamente (por castigo) olharem para ele.


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Ano de publicação: 1890.
Origem: Brasil (Amazonas)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)

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