O cágado e seu companheiro urubu foram
convidados para uma festa no céu. O urubu, querendo debicá-lo, disse:
— Então, compadre cágado, já sei que vai à
festa e eu quero ir em sua companhia.
— Pois não, respondeu o outro, contanto que
você leve a sua viola.
Separaram-se, ficando o urubu de ir à casa do
cágado, para irem juntos.
No dia seguinte, logo muito cedo, o urubu
apareceu. O cágado estava à janela, e assim que o viu voando, escondeu-se.
O outro entrou, e foi a mulher quem o
recebeu. Convidou-o a passar para a sala de jantar.
— Venha cá para dentro tomar uma xícara de
café. Deixe aí a sua violinha, que ninguém a quebra.
O cágado, assim que o urubu passou, meteu-se
dentro da viola.
— E seu marido, comadre?
— Ora, mandou pedir mil desculpas, mas já foi
adiante.
O urubu, acabando o café, pegou na viola sem
nada desconfiar, abriu voo e chegou ao céu.
Perguntaram-lhe pelo cágado, sabendo que
haviam combinado vir juntos.
— Qual! Pois vocês pensam que ele vem? Quando
lá embaixo ele nem sabe andar, quanto mais voar!
Pilhando-o distraído, o cágado saiu da viola
e apareceu no meio dos outros, que se admiraram muito ao vê-lo.
Dançaram e brincaram até tarde.
Acabada a festa, usando do mesmo estratagema,
o cágado meteu-se dentro da viola.
O urubu descia voando, quando o cágado se
mexeu sem querer.
— Ah! é assim que você sabe voar? Pois voa
mais depressa, exclamou o companheiro virando a caixa.
O cágado despenhou-se daquela imensa altura,
e, quando vinha chegando à terra, vendo que ia se esborrachar sobre uma pedra,
começou a berrar:
— Arreda, pedra, senão eu te esborracho!
Quem caiu foi ele, que se achatou
completamente, ficando com a forma que ainda hoje conserva.
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Ano de publicação: 1896.
Origem: Brasil (Reconto)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)
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