quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

O bom juiz (Histórias da avozinha), de Figueiredo Pimentel

 

O BOM JUIZ

Zenóbio era empregado da Limpeza Pública; – exercia tão baixo cargo porque não encontrara de pronto outra colocação e necessitava sustentar uma numerosa família. Trabalhava alegremente, sem se importar com os tolos preconceitos sociais, porque era um desses homens sensatos que pensam, com justa razão, que é o homem que nobilita o emprego, e não o emprego que nobilita o homem. Há varredores honrados, do mesmo modo que há ministros desonestos.

Um dia em que estava varrendo uma rua pouco frequentada, achou uma bolsa contendo cem mil-réis. Em vez de ficar com o achado, como era honesto, procurou o dono, e tanto fez que o encontrou.

Mas esse homem, que era um negociante, sovina, avaro e miserável em vez de ficar agradecido, retirou de dentro dez mil-réis, e acusou o varredor de ter roubado.

Foram à justiça.

O juiz, um bom, honrado e digno magistrado, ouviu a acusação, e depois a defesa. Em seguida sentenciou da seguinte forma:

— O comerciante diz que perdeu uma bolsa com cem mil-réis, e que o varredor Zenóbio a achou. Ele, pelo seu lado diz que a entregou sem conferir, tal como a havia encontrado. Ora, como a bolsa contém noventa e não cem mil-réis, que o negociante alega, claro está que não é esta. Assim, mando que entregue a bolsa ao varredor, e deverá pagar ainda por cima as custas.

Zenóbio ficou muito satisfeito, ao passo que o outro ainda teve que gastar mais dinheiro, para castigo de sua ganância e perversidade.

 

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Ano de publicação: 1896.
Origem: Brasil (Reconto)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)

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