segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

As três formigas (Fábula), de Khalil Gibran

 

AS TRÊS FORMIGAS
 

Três formigas se encontraram no nariz de um homem que dormia ao Sol. Depois que se cumprimentaram — cada uma saudando a outra, em conformidade com o costume de seu clã —, começaram a conversar.

A primeira formiga disse:

— Estas colinas e planícies são as mais estéreis que eu já conheci. Procurei o dia todo um grão qualquer, mas nada há a ser encontrado.

Disse a segunda formiga:

— Também nada encontrei, embora eu tenha esquadrinhado cada canto e clareira. Estamos — creio eu — no lugar que o meu povo chama de terra tenra em movimento, onde nada cresce.

Então, erguendo a cabeça, disse a terceira:

— Minhas amigas, estamos agora no nariz da Formiga Suprema, a formiga poderosa e infinita, cujo corpo é tão extenso que não podemos contemplá-lo, sua sombra é tão vasta que não podemos rastreá-la, e sua voz é tão potente que não podemos escutá-la. E ela é onipresente.

Quando a terceira formiga terminou de falar, as demais se entreolharam e riram dela.

Naquele instante, o homem se mexeu e, durante o sono, ergueu a mão e coçou o nariz. E as três formigas foram esmagadas.

 

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Tradução de Paulo Soriano.

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