quinta-feira, 25 de novembro de 2021

O rato do campo e o rato da cidade (Fábula), de Monteiro Lobato

 

O RATO DO CAMPO E O RATO DA CIDADE

Certo ratinho da cidade resolveu banquetear um compadre que morava no mato. E convidou-o para um festim, marcando hora e lugar.

Veio o rato da roça, e logo de entrada muito admirou do luxo de seu amigo. A mesa era um tapete oriental, e os manjares eram coisa papa-fina: queijo do reino, presunto, pão de ló, mãe-benta. Tudo isso dentro de um salão cheio de quadros, estatuetas e grandes espelhos de moldura dourada.

Puseram-se a comer.

No melhor da festa, porém, ouviu-se um rumor na porta. Incontinente, o rato da cidade fugiu para o seu buraco, deixando o convidado de boca aberta.

Não era nada, e o rato fujão voltou e prosseguiu o jantar. Mas ressabiado, de orelha em pé, atento aos mínimos rumores da casa.

Daí a pouco, novo barulhinho na porta e nova fugida do ratinho.

O compadre da roça franziu o nariz.

Sabe do que mais? Vou-me embora. Isto aqui é muito bom e bonito, mas não me serve. Muito melhor roer o meu grão de milho no sossego da minha toca do que me fartar de gulodices caras com o coração aos pinotes. Até logo.

E foi-se.


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Ano de publicação: 1922.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)

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