quinta-feira, 25 de novembro de 2021

A rã e o boi (Fábula), de Monteiro Lobato

 

A RÃ E O BOI

Tomavam sol à beira dum brejo uma rã e uma saracura. Nisto chegou um boi, que vinha para o bebedouro.

– Quer ver — disse a rã — como fico do tamanho deste animal?

– Impossível, rãzinha. Cada qual como Deus o fez.

– Pois olha lá! — retorquiu a rã estufando-se toda. Não estou “quase” igual a ele?

– Capaz! Falta muito amiga.

A rã estufou-se mais um bocado.

– E agora?

– Longe ainda!…

A rã faz novo esforço.

– E agora?

– Que esperança!…

A rã, concentrando todas as forças, engoliu mais ar e foi-se estufando, estufando, até que plaf! Rebentou como um balãozinho de elástico.

O boi que tinha acabado de beber lançou um olhar de filósofo sobre a rã moribunda e disse:

– Quem nasce para dez réis não chega a vintém.

 

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Ano de publicação: 1921.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)

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