Certa manhã um ratinho saiu do buraco pela
primeira vez. Queria conhecer o mundo e travar relações com tanta coisa bonita
de que falavam seus amigos. Admirou a luz do sol, o verdor das árvores, a
correnteza dos ribeirões, a habitação dos homens. E acabou penetrando no
quintal duma casa da roça.
— Sim senhor! É interessante isto!
Examinou tudo minuciosamente, farejou a tulha
de milho e a estrebaria. Em seguida notou no terreiro um certo animal de belo
pelo que dormia sossegado ao sol. Aproximou-se dele e farejou-o sem receio
nenhum.
Nisto aparece um galo, que bate as asas e
canta.
O ratinho por um triz que não morreu de
susto. Arrepiou-se todo e disparou como um raio para a toca. Lá contou à mamãe
as aventuras do passeio.
— Observei muita coisa interessante — disse
ele — mas nada me impressionou tanto como dois animais que vi no terreiro. Um,
de pelo macio e ar bondoso, seduziu-me logo. Devia ser um desses bons amigos da
nossa gente, e lamentei que estivesse a dormir, impedindo-me assim de
cumprimentá-lo.
O outro... Ai, que ainda me bate o coração! O
outro era um bicho feroz, de penas amarelas, bico pontudo, crista vermelha e
aspecto ameaçador. Bateu as asas barulhentamente, abriu o bico e soltou um có-ri-có-có tamanho que quase caí
de costas. Fugi. Fugi com quantas pernas tinha, percebendo que devia ser o
famoso gato que tamanha destruição faz no nosso povo.
A mamãe-rata assustou-se e disse:
— Como te enganas, meu filho! O bicho de pelo
macio e ar bondoso é que é o terrível gato. O outro, barulhento e espaventado,
de olhar feroz e crista rubra, o outro, filhinho, é o galo, uma ave que nunca
nos fez mal nenhum.
As aparências enganam. Aproveita, pois, a
lição e fica sabendo que —
Quem vê cara não vê coração.
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