quinta-feira, 25 de novembro de 2021

O jabuti e os sapinhos (Fábula), de Monteiro Lobato

 

O JABUTI E OS SAPINHOS
 

Andando a filha da onça muito namorada pelo lagarto e pelo homem, que desejavam desposá-la, o jabuti jurou que havia de vencer aos dois. Pensou um plano. "Achei, achei!" — disse de repente. 

Foi a uma aguada e pegou um punhado de sapinhos, que soltou no bebedouro, com ordem, quando qualquer bicho viesse beber, de cantar uma coisa assim: 

Turi, turi...
Quebrar-lhe as pernas...
Furar-lhe os olhos... 

E recomendou: 

— Mas se eu aparecer com a minha gaita vocês ficam logo caladinhos, ouviram? 

Logo depois apareceu b macaco, que vinha beber. Ao ouvir a cantiga da água, deu um pulo de medo e sumiu-se. 

Outros bichos vieram, acontecendo a mesma coisa. Veio o lagarto — e fugiu no galope. 

Veio o homem — e fugiu fazendo o pelo-sinal. 

Faltava só o jabuti. Foram buscá-lo. 

— Pois vou, porque não tenho medo nenhum, mas quero que todos os animais me acompanhem de perto. 

A bicharia toda o seguiu. Quando chegou em certo ponto, disse o jabuti: 

— Bem, agora vocês parem. Eu vou só. Aproximou-se do bebedouro e deu um toque de gaita. Os sapinhos emudeceram como peixes. 

O jabuti bebeu sossegadamente e foi ter com os animais, que estavam assombrados de tanta valentia. A onça, muito alegre, deu-lhe a filha em casamento.

 

---
Ano de publicação: 1937.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021) 

Nenhum comentário:

Postar um comentário