O VELHO E A MOSCA
Repousava à soalheira um Velho calvo, com a cabeça descoberta, e uma Mosca não fazia senão picar-lhe na calva. Acudia logo o Velho com a mão, e como ela fugisse mui depressa, dava em si mesmo grandes palmadas, de que a Mosca gostava e se ria. Disse o Velho: Ride-vos embora de quantas vezes eu der em mim, que isso não me mata; mas se uma só vez vos acertar, ficareis morta, e pagareis o novo e o velho.
MORAL DA HISTÓRIA:
Mancebos há que em zombar e
escarnecer dos homens graves e sisudos são mais importunos que Moscas, até que
o homem grave pelos castigar lhes descobre uma falta sua, com que os deixa
mortos de injuriados. Eu por esta Mosca entendo alguns mui zelosos, que
trabalhão por dar desgostos a senhores poderosos, ou fazem sobrancerias às
justiças e escapam muitas vezes, até que de alguma caem nas suas mãos, e os
fustigam de maneira que ficam perdidos de todo.
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Ano de publicação: 1684.
Origem: Portugal.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2022)
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