quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

O jabuti e a anta do mato (Contos Populares), de Couto de Magalhães

 

O JABUTI E A ANTA DO MATO 

Gente boa é jabuti, não é gente má. Estava debaixo do taperebá ajuntando sua comida. A anta do Mato chegou aí, e disse-lhe:

— Retire-se daqui, jabuti; retire-se daqui.

jabuti respondeu a ela:

— Eu daqui não me retiro, porque eu estou debaixo da árvore da fruta de minua.

— Retira-te, jabuti, senão eu calco-te.

— Calca... para tu veres se só tu és macho.

anta, Jurupari, (espírito do mal) calcou o coitado jabuti; a anta foi-se embora.

O jabuti disse assim:

— Deixa estar, Jurupari! quando vier o tempo da chuva, eu saio, vou-te no encalço, até onde te encontrar; então receberás o troco.

Veio o tempo da chuva, para o jabuti sair, e foi-se embora atrás do grande Jurupari. Encontrou-se com o rasto da anta. jabuti perguntou-lhe:

— Quanto tempo ha que teu senhor te deixou?

O rasto respondeu:

—Já me deixou ha muito.

O jabuti saiu ali depois de uma lua; encontrou-se com outro rasto. O jabuti perguntou:

— Teu senhor ainda está longe?

— O rasto respondeu:

— Quando tu andares dois dias te encontrarás com ele.

— Estou aborrecido de procurar; ela foi de vez.

O rasto perguntou:

— Por que razão a procuras tanto agora?

jabuti respondeu:

— Para nada. Eu quero conversar com ela.

O rasto falou:

— Então tu vás ao rio pequeno; lá acharás meu pai grande.

O jabuti assim falou:

— Então eu ainda vou.

Ele chega ao rio pequeno; perguntou assim:

— Rio, que é do teu senhor?

Rio respondeu:

— Não sei.

O jabuti falou ao rio:

— Por que razão assim me falas tão bem?

O rio respondeu:

— Eu falo assim bem, porque eu sei o que meu pai fez a você.

O jabuti falou:

— Deixe estar; eu hei de a achar. Então agora, rio, vou-me do pé de você; quando o avistares, eu estarei com o cadáver de teu pai.

Rio respondeu:

— Não bulas com meu pai. Deixa-o dormir.

O jabuti faltou :

— Agora, com certeza alegro-me bastante; rio, vou-me embora.

Rio respondeu:

— Ah, jabuti, você, pôde ser quereres te enterrar segunda vez.

O jabuti falou :

— Não estou no mundo para fazer de pedra; agora eu vou ver se ha mais valente do que eu; adeus, rio, vou-me.

O jabuti foi-se embora; na margem do pequeno rio encontrou a anta. O jabuti faltou-lhe assim:

— Eu encontrei-te ou não? Agora nos veremos. Segundo dizem eu sou macho.

Pulou para diante da anta, sobre os escrotos da anta. Então falou:

— O fogo, dizem, queima tudo.

O jabuti pulou com valentia sobre os escrotos da anta.

A anta falou assim:

— Pelo bom Tupã, jabuti, deixa meu escroto.

— Eu não deixo, porque eu quero ver a tua valentia.

A anta falou:

— Então, estou desfalecendo.

A anta levantou-se, correu para o pequeno rio; no fim de dois dias a anta morreu.

O jabuti então falou:

— Eu matei ou não a você? Agora eu vou procurar meus parentes para o virem comer.


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Origem: Brasil
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)

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