quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

O grande advogado (Histórias da avozinha), de Figueiredo Pimentel

 

O GRANDE ADVOGADO

Gustavo era um simples lavrador, mal sabendo ler e escrever.

Desejando, porém, ter um doutor na família, mandou Lucas, seu filho, para S. Paulo estudar Direito.

O rapaz, porém, meteu-se na pândega, gastou todo o dinheiro que o velho lhe enviava, com grandes sacrifícios, e, ao cabo de cinco anos, sabia tanto quanto ali chegara. 

Forçoso foi no fim deste tempo, voltar para a roça.

Aí chegando, quis aparentar que era muito instruído, e vendo que os cães latiam, não o conhecendo, bradou-lhes:

— Ó canes de mi patri, non conhecetis vostrum amum?

O pai, ouvindo aquilo, ficou cheio de alegria e disse para a mulher:

— Ó Joana! que bem empregado foi o nosso dinheiro. Olha que o doutor até fala latim com os cachorros!

***

O lavrador nessa ocasião estava a braços com uma demanda, e mandou que o filho fosse advogá-la.

Vendo que os juízes, escrivães, e mais gente do foro, eram tão lorpas como ele, o rapaz apresentou-se sem receio, impando vaidade, de chapéu à cabeça, falando alto:

— Ed nabis in saqui! Quid espigoide! Ego mettidum cum ladrones e burrorum. Pagavit cum lingue de pau!

Ouvindo aquele arrazoado os demandistas acharam mais razoável desistir do processo, mesmo porque não tinham razão, e o velho lavrador era o legítimo dono das terras.

E foi assim que o rapaz se viu elevado a grandes alturas, considerado o primeiro advogado do mundo.

 

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Ano de publicação: 1896.
Origem: Brasil (Reconto)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)

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