terça-feira, 28 de dezembro de 2021

O galo, o gato, e o ratinho (Fábula), de Justiniano José da Rocha

 

O GALO, O GATO, E O RATINHO 

Um ratinho que pela primeira vez saíra a passeio, voltou para o buraco, todo afadigado, suando; a mãe que o viu, perguntou sobressaltada: “O que tens, filhinho?” — Ah! mamãe; se vosmecê tivesse visto...

“Então o que foi?” — Ouça, ia eu passear; tudo estava tão bonito, que não sabia ao que atendesse; mamãe, lá fora é mais divertido do que aqui na nossa casa. No meio de tudo, em pouca distância, avisto um bicho grande, malhado, de longa felpa, de olhos brilhantes e doces, de ar meigo e fagueiro; é da nossa raça por certo, mamãe, talvez seja nosso parente. Ia chegar-me para travar conversa, quando um maldito berrador me assustou, a mim que não sou lá dos mais medrosos. Que bicho horrendo, mamãe, era esse! turbulento, inquieto, tem sobre a cabeça um pedaço de carne, seus braços são curtos e cheios de penas, e para andar por certo lhe não servem. Mal me avistou, deu ele um grito que me fez estalar a cabeça, e me obrigou a fugir praguejando-o, principalmente porque não me deixou ir falar com o meu camarada, que não sei mais aonde poderei encontrar. — Pobre filho! disse-lhe a mãe, nunca procures encontrar-te com esse malvado; é um hipócrita, inimigo jurado de nossa raça; a quantos dos nossos pilha, mata e come; é um gato. Se dele escapaste, deves a Deus, e ao outro bicho. Esse, sim, pode-te ser útil, desse gostamos nós muito, e quando o pilhamos a jeito, dá-nos sofrível papata; é um galo.

MORAL DA HISTÓRIA: Nunca te fies na aparência; assim acabou a ratazana as explicações que deu ao filho, e com ela repitamos: — Nunca te fies nas aparências. 

 

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Ano de publicação: 1852.
Origem: Brasil  (imitadas de Esopo e La Fontaine)

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