A RAPOSA QUE FOI AO
GALINHEIRO
Um dia a Raposa, que rondava havia muito pela
porta de um rico lavrador, dono de farta capoeira, descobriu nesta um buraco.
Como o buraco era pequeno encolheu-se quanto possível, e, fazendo-se esguia,
conseguiu caber por ele.
Ia só para estudar o caminho (pensava ela), e
depois voltaria por lugar mais seguro e fácil.
Mas o mau foi apanhar-se lá dentro, pois
assim que viu diante dos seus olhos as galinhas, galos, frangos, patos e perus,
não teve mão na gula, deitou-se a eles e comeu, comeu, até se abarrotar.
No melhor da festa, quando já estava que se
não podia mexer, sentiu passos no pátio e quis fugir por onde entrara. Foi-lhe
impossível! O buraco por onde coubera com a barriga vazia, não lhe deu passagem
com ela cheia a mais não poder, por grandes esforços que fizesse. Sentindo-se
perdida, de que se há de lembrar a grande manhosa? De fingir-se morta!
Deitou-se no meio do chão, muito estendida,
com a língua entre os dentes, tal como se tivesse morrido de farta.
Quando o lavrador veio, de manhã, abrir a
porta à criação, caiu-lhe a alma aos pés. Os pobres animais que a gulotona não
comera, matara-os e deixara-os de lado. Cheio de raiva ia para lhe dar uma
paulada, gritando:
— Ah grande marota que estrago me fizeste na
capoeira!...
Mas, tocando-lhe com o pé, imaginou-a já
morta e, em vez de lhe bater, agarrou-lhe pelas pernas e atirou-a para a horta,
dizendo:
— Tanto comeste que arrebentaste! Foi bem
feito! Fica-te para aí, que logo te enterro, malvada!
A espertalhona, logo que se viu fora da
capoeira, deu um pulo, e pernas para que te quero! Aquilo, foi fugir, campos
fora, que nunca mais lhe puseram a vista em cima.
Então o lavrador jurou a si mesmo nunca mais
se fiar em pessoas intrujonas, nem mesmo quando parecessem mortas.
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Origem: Portugal.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)
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