A
ORIGEM DAS PLÊIADES
(Lenda de Vila Bela)
Havia antigamente um encantado que fugiu da
mulher.
— Quando tu quiseres falar-me, irás atrás de
mim. Meu caminho são as pegadas dos urubus. Quando achares penas de araras, é
porque é o caminho das coisas más.
O pai das Plêiades quando deixou a mulher, esta estava grávida. Indo um dia pelo caminho procurar o marido, os filhos choraram na barriga. Zangando-se a mulher com os filhos, ralhou-lhes e disse:
— Tudo quanto vocês veem, pedem. Por isso não
saem já para comer o que querem.
Depois que ralhou, as crianças não falaram
mais. Somente foi pelo caminho das coisas más zangada com eles. Chegou à casa
da mãe da onça.
— Que vens tu buscar por aqui? Meus filhos
são muito maus.
— Eu venho por aqui no encalço de meu marido.
Ele me disse que viesse atrás das pegadas do urubu e eu vim pelo caminho das
coisas más ou das penas das araras.
— Ah! Minha neta, ali vêm meus filhos
chegando e zangados comigo.
Vem para aqui a fim de que eu te esconda
debaixo do panelão, para que eles não te vejam.
Chegou um filho:
— Ah! Minha mãe, aqui cheira a sangue real.
— Quem há de chegar aqui, meu filho. Eu estou
longe. A mãe perguntou-lhe:
— Que farias tu quando uma mulher aparecesse
e viesse procurar-me?
— Que eu faria, minha mãe? Deixava ficar para
tua amiga.
Depois disso, chegaram os outros e disseram a
mesma coisa, como o primeiro. Um dia, eles nada mataram para comer e zangados
mataram a mulher que estava com a mãe. Esta pediu os ovos dela para criar;
tomou-os, guardou-os bem e deles saíram sete meninos e uma menina. Depois de
crescidos, disseram estes:
— Como vingaremos nossa mãe? Vamos fazer um
espeto de paxiúba para espetar naquele fundo que ali está, matá-los,
ficando assim vingadores de nossa mãe.
Quando as crianças foram banhar-se, chegaram
as onças.
— Meninos, vocês que estão fazendo?
— Nada; estamos nos banhando.
— Eu quero também me banhar com vocês;
— Pois bem. Nós, como criancinhas, saltamos
aqui pelo baixo. Vocês, como são grandes, saltem ali para aquele fundo.
Saltaram para a água funda e ali ficaram;
morreram todos no espeto.
Foram-se embora as crianças e sentaram-se em
uma pedra. Chegou a onça a ter com eles.
— Que é que fazem vocês?
— Nada; estamos brincando.
— Então eu quero também brincar.
— Pois bem. Senta-te na pedra e faz o que
estamos fazendo.
— Para quê?
— Para fazer pequeninos os nossos grãos.
— Então eu quero meu grão também pequenino.
— Farás o mesmo que estamos fazendo.
Bateram todos com os grãos na pedra. Ali ela
ficou e morreu. Voltaram os meninos para casa da mãe da onça. Depois, foram
pela beira do rio, arremedando todos os pássaros. Mandaram também a irmã os
arremedar.
Nada para eles era bonito. Mandaram arremedar
o carão. Acharam bem bonita a cantiga e disseram:
— Espreita; e quando as Plêiades estiverem
saindo, tu sacudirás as asas, porque nunca as tuas penas cairão. Espreita;
quando as Plêiades nascerem, tu cantarás.
O carão sacudiu as azas e seus irmãos o
mandaram embora. Eles subiram para o céu e tornaram-se as Plêiades.
---
Ano de publicação: 1890.
Origem: Brasil (Amazonas)
Pesquisa e adequação
ortográfica: Iba Mendes (2021)
Nenhum comentário:
Postar um comentário