Existiu há séculos passados um rei que tinha
três filhos. Tendo medo que eles tivessem desejos de reinar antes de sua morte,
porque já corriam boatos que conspiravam contra ele, e não querendo deixar um
lugar que tão dignamente ocupava, pensou que o melhor meio de viver em repouso
era distraí-los com promessas, cujo resultado seria iludi-los.
Uma vez chamou-os ao quarto e disse-lhes:
— Meus filhos, a minha avançada idade já não
permite que me dedique aos negócios do reino com tanto cuidado como dantes, e
quero que os seus vassalos não sofram. Por isso quero colocar a minha coroa na
cabeça de um de vós. Haveis, porém, de concordar comigo que, para isso é
preciso que façais uma ação digna de tão grande presente. Quero, pois, que vós
três procureis um cão, lindo e fiel, que me faça companhia no resto dos meus
dias. Aquele que me trouxer o animal mais bonito será o dono da minha coroa, e
portanto meu herdeiro.
Os moços ficaram admirados com o desejo de
seu velho pai, mas resolveram ir procurar o animal que lhes havia de dar a
sucessão do reino, prometendo que, no fim de um ano, àquela mesma hora,
estariam de volta dando o resultado da incumbência.
Partiram os moços, cada um para o seu lado.
O príncipe Nestor, como era chamado o mais
jovem, seguiu viagem, e não havia dia em que não comprasse um cachorrinho.
Mas, como não podia nadar acompanhado de
tantos animais, à proporção que comprava um mais bonito, abandonava os outros.
Ia seguindo sempre à procura de um animal
lindo, quando uma noite foi surpreendido por uma tempestade no meio de uma
floresta.
Subiu a uma árvore muito grande, que havia
perto do lugar onde estava, para se abrigar da chuva, e poder passar a noite,
quando viu de longe uma luzinha.
Desceu imediatamente, e foi caminhando na
direção daquele farolzinho.
Chegou à porta de um castelo, o mais soberbo
que se pode imaginar, todo de ouro, com muros de porcelana transparente,
representando todas as histórias de fadas que há no mundo.
Aproximando-se da porta, bateu a campainha,
cujo som, repercutindo lá dentro, parecia ser de ouro ou de prata.
Passados poucos segundos abriu-se a porta,
sem que ele visse outra coisa senão uma dúzia de mãos no ar, segurando archotes
para alumiar sua passagem.
Ficou tão admirado que hesitava em entrar,
quando sentiu que o empurravam para a frente.
Começou a andar ao acaso, e sempre
maravilhado de ver salas, com mais de mil velas cada uma, e cada qual de uma
qualidade: de ouro, de prata, de marfim, de pérolas, de tudo quanto é precioso
neste mundo.
Depois de ter atravessado as salas, as mãos
que o conduziram até ali fizeram-no parar, e viu um sofá encostado a um fogão.
Sentou-se, e sentiu mãos começarem a
despir-lhe a roupa molhada que trazia, substituindo-a por uma bela camisa
bordada a ouro com botões de pérolas.
Com este novo vestuário, as mesmas mãos
empurraram-no a um quarto contíguo, onde viu um lavatório, espelho, perfumarias
as mais esquisitas, enfim tudo quanto é necessário a um moço para se vestir.
Sentou-se em uma cadeira de marfim, e
começaram a fazer-lhe a barba, penteá-lo, frisá-lo e mudar-lhe a camisa por uma
roupa mais própria e de riqueza nunca vista.
As mesmas mãos, depois do príncipe Nestor
estar pronto, conduziram-no a uma sala, admirável pelos seus enfeites.
A mesa estava posta com dois talheres, o que
intrigava em excesso o príncipe, ao ponto de se julgar no inferno.
A sua admiração chegou ao auge, quando, a um
sinal dado, viu uma porção de gatos, de diversas raças e cores, entrar cada um
com um instrumento e seguidos de um gato de óculos, com um rolo de papel
debaixo do braço.
Subiram os bichinhos para um estrado, e
começaram a tocar, cada qual de sua maneira, de sorte que formavam a orquestra
mais engraçada que jamais se tem imaginado, pelas caretas que os bichinhos
faziam, o que provocaram ao príncipe gargalhadas estrepitosas.
Pensava Nestor em todas as coisas que lhe
haviam acontecido naquele castelo, quando viu entrar uma figurinha, coberta com
um véu de crepe, e com dois gatos fardados segurando na cauda do seu vestido
preto, também de luto e de espada à cinta.
Seguia-se um cortejo de gatos, cada um
trazendo ratoeiras cheias de ratos, camundongos e morcegos.
O príncipe não sabia como se ter de tanta
surpresa, quando a figura se aproximou dele, e viu uma bela gatinha branca.
Tinha um ar triste, e começou a miar tão
docemente que quem a ouvisse se sentiria pesaroso.
Chegou-se ao moço, e falou-lhe:
— Filho de rei, sê bem-vindo; a minha real
majestade te recebe com gosto.
— Excelentíssima gatinha, disse o príncipe,
sois tão generosa em me receber com tanto agrado, que não me pareceis uma
gatinha qualquer; o dom da palavra, que possuis, e este castelo tão rico, são
provas bastante evidentes do que vos digo.
— Príncipe, respondeu a gatinha, acaba com
teus galanteios; sou simples, em meus discursos e em meus modos, porém, tenho
bom coração. Ordeno que sirvam ao nosso hóspede, e que os músicos se calem,
porque o príncipe não entende o que eles dizem.
— E eles dizem alguma coisa? replicou o
príncipe.
— Sem dúvida, continuou ela. Temos aqui
poetas de muito espírito; e se demorares aqui algum tempo, ficarás convencido
do que te digo.
Serviram o jantar, e o príncipe viu dois
pratos, com um ratinho assado, e outro com uma carne que ele não conheceu.
Ficou com repugnância de comer tal comida,
porém a gata, adivinhando o que se passava no espírito do moço, asseverou-lhe
que o outro prato era feito de propósito para ele, e que por isso não precisava
ter escrúpulos.
O príncipe acreditou no que lhe dizia a
gatinha, e jantou muito bem, admirando somente um retrato que viu no colar da
gatinha, onde reconheceu a fotografia de um homem muito bonito, e que se
parecia um pouco com ele.
Perguntou de quem era aquele retrato; a
gatinha ficou mais triste e não respondeu.
Com medo de contrariá-la, levantaram-se da
mesa, sem mais o jovem moço se ocupar com a fotografia.
Depois do jantar, foi o príncipe Nestor
convidado para assistir a um espetáculo no teatro do palácio, e ficou
maravilhado de ver doze gatos e doze macacos dançarem como as mais afamadas
bailarinas.
Acabado o espetáculo, esteve o príncipe a
conversar com a gatinha, admirando cada vez mais como ela era instruída em
todas as histórias dos príncipes e reis do mundo.
Já era mais de meia-noite, quando os dois se
deram as boas-noites, e foram deitar-se.
No dia seguinte estava o príncipe ainda
deitado, quando lhe apareceram duas mãos que traziam numa bandeja de ouro e
brilhantes um cartão da gatinha, convidando-o para uma caçada.
O príncipe levantou-se, vestiu-se, e foi ter
com a gatinha, que já encontrou montada em um macaco, oferecendo-lhe ela um
cavalo-de-pau, que corria mais que o melhor animal deste mundo, e tanto como o
vento.
A caçada era feita pelos gatos aos coelhos, e
era de se admirar como podiam estes animais caçar aqueles.
***
Levava Nestor essa boa vida, e havia
esquecido o fim da sua viagem, entretido como estava pelos divertimentos que a
toda hora lhe proporcionava a gatinha, quando um dia esta lhe disse:
— Sabes que só tens três dias para procurar o
cãozinho que teu pai deseja, e que teus irmãos já encontraram dois, lindos?
O príncipe, admirado de sua negligência,
exclamou:
— Por que encanto secreto esqueci a coisa
mais importante deste mundo, para mim? Onde poderei encontrar um cão como
desejo, e um cavalo bastante rápido para fazer tantas léguas em tão pouco
tempo?
A gatinha, vendo-o tão inquieto, acalmou-o:
— Sossega; sou tua amiga; podes ficar ainda
um dia em meu palácio; e, conquanto daqui ao teu reino haja quinhentas léguas,
o meu cavalo-de-pau vai lá ter em menos de doze horas.
— Agradeço-vos muito, bela gatinha, mas não é
preciso somente chegar à casa de meu pai; é necessário também encontrar um cão,
e onde irei agora achá-lo?
— Pois toma esta amêndoa, disse a gatinha; lá
dentro está um cãozinho.
— Oh! disse o príncipe, vossa majestade quer
caçoar comigo?
— Não; e se não acreditas, encosta-a ao
ouvido, que escutarás o latido.
O príncipe obedeceu; e quando ouviu o “au-au”
do cachorrinho, ficou maravilhado; e queria por força abrir a amêndoa para ver
o animalzinho.
A gatinha proibiu-lhe que assim procedesse,
dizendo que só devia abri-la em presença do rei seu pai.
Nestor despediu-se da bichinha, dizendo que
se sentia pesaroso de deixar uma gata tão gentil, e suplicou-lhe ardentemente
para que fosse a seu palácio, onde seria muito bem tratada.
A gatinha deu um suspiro triste, e não
respondeu.
O moço montou no cavalo-de-pau e voou ao
palácio do rei, onde encontrou os irmãos, que estavam chegando naquele
instante.
Quando os três príncipes chegaram à presença
do velho rei, este não sabia qual dos dois cães trazidos era o mais bonito, tão
lindos eram. Perguntou a Nestor onde estava o animal que devia trazer.
— Está aqui, meu pai, e mostrou-lhe a
amêndoa.
O rei supôs que o filho queria caçoar, e já
estava disposto a mandar castigá-lo severamente pela falta de respeito, quando
o moço abriu a amêndoa, de onde saiu um cãozinho, do tamanho de um caroço de
feijão, a latir, a pular e a saltar que era um gosto.
Todos foram de acordo haver sido Nestor quem
trouxera o animal mais lindo. Mas o rei, que não se achava com disposição de
lhe ceder a coroa, disse:
— Na verdade, meu filho, foste tu que
ganhaste o prêmio. Mas, para não descontentar a teus irmãos, quero uma segunda
prova. Tragam-me, daqui a um ano, um pano que seja capaz de atravessar o fundo
da agulha mais fina que houver em todo o reino.
***
Partiram os príncipes à procura do que lhes
pedia seu pai pensando onde poderiam encontrar pano tão fino que passasse pelo
fundo de uma agulha, e desanimados de conseguir o que lhes fora pedido.
Nestor montou no cavalo-de-pau, e partiu para
o palácio da gatinha, a quem foi pedir proteção e conselho.
As mãos, que da primeira vez o tinham
recebido, assim que ele chegou, levaram-no à presença da gatinha, que lhe
falou:
— Príncipe, senti muito a tua partida, e não
contava mais te ver, porque te estimo muito, e desejava a tua volta.
Infelizmente, do que desejo neste mundo, nada tenho conseguido. Falemos sobre
assunto que mais te interessa. Já sei a que vens; o que teu pai pede é muito
difícil de se conseguir, senão quase impossível. Como tenho, porém, aqui no meu
reino, tecelões admiráveis, vou fazer a tua encomenda e estou certa que eles
envidarão todos os esforços para me serem agradáveis.
Nestor começou a viver no palácio da gatinha
a mesma vida que dantes. Tendo sempre com que se distrair, – festas de todas as
espécies, – esqueceu-se do fim da sua segunda visita.
Uma tarde em que conversava com a gatinha,
cada vez mais admirado de tanto espírito do animalzinho, ela lhe disse:
— Príncipe, é amanhã o dia em que deves
apresentar a teu pai o pano que ele te encomendou. Já te esqueceste?
— Palavra que tinha me esquecido, minha
formosa gatinha, do fim a que voltara a este palácio. A vossa companhia é tão
encantadora, que de bom gosto passaria o resto de minha vida, aqui. O único
sentimento que tenho é não serdes mulher, para eu viver de joelhos, vos
adorando. Mesmo assim, basta que me dês consentimento, que aqui ficarei, não
querendo mais saber do direito que tenho, sobre a coroa del-rei meu pai.
— Príncipe, o que me pedes é impossível.
Volta ao palácio de teu pai, a quem não deves abandonar por amor a uma triste
gata.
— Mas como voltarei eu, se de todo me esqueci
de procurar o pano, e de hoje até amanhã não o poderei haver, nem que tenha o
auxílio do cavalo-de-pau?
— Sossega, príncipe Nestor, disse ela muito
triste, eu me incumbi de arranjar o pano que teu pai deseja. Ei-lo aqui. Vai, e
lembra-te sempre da tua amiga, a gatinha.
Entregou-lhe uma caixinha do tamanho de um
dado.
O príncipe não poderia supor que dentro de
uma caixinha tão pequena houvesse uma peça de pano. Mas, como a gatinha não
gostava de caçoar, aceitou o microscópico embrulho, com recomendação de só
abri-lo em frente do rei.
Montou no cavalo-de-pau que lhe dera a
gatinha, e em dez horas viajou quinhentas léguas.
Assim que chegou ao palácio, viu dois
cavaleiros saltando de dois cavalos, e reconheceu os dois irmãos.
Estes indagaram do príncipe Nestor se tinha
arranjado a peça de pano, ao que lhes respondeu que não, porque o mais fino
pano que encontrara só passava pelo anel de uma criança.
Chegaram os dois príncipes à presença do rei,
que os julgou logo sem direito à coroa, por isso que a peça de pano que levavam
só passava pelo fundo de uma agulha de coser sacos.
Voltando-se para seu filho mais moço:
— E tu, meu filho, foste tão feliz como da
outra vez?
— Suponho que sim, meu pai. Aqui está a peça
de pano que o senhor deseja. Tem cem metros de comprimento por trinta de
largura.
Apresentou a caixinha que lhe havia dado a
gatinha.
O rei não quis acreditar que uma caixa do
tamanho de um dado pudesse conter tanto pano, mas para se certificar abriu-a.
Encontrou dentro uma caixa de vidro.
Todos começaram a duvidar do jovem príncipe,
quando este pediu a seu pai que abrisse a segunda caixinha.
Este abriu-a, e encontrou um grão de milho.
Aumentaram as zombarias ao príncipe Nestor,
dizendo que tinha sido enganado, e ele mesmo, um tanto envergonhado, disse
consigo mesmo:
— Será possível que a gatinha branca me tenha
ludibriado?
Nestor sentiu uma arranhadela na mão.
Compreendeu que era a gatinha, que não queria que ele duvidasse de sua palavra;
e, virando-se para todas as pessoas presentes, disse:
— Garanto a todos que encontrarão cem metros
de pano de comprimento por trinta de largura.
O rei já se via satisfeito, por ver que a
coroa não passaria a nenhum dos seus filhos, e, para contentar o príncipe
Nestor, mandou que ele quebrasse o grão de milho.
Este imediatamente partiu-o, e encontrou um
grão de ervilha, que também quebrou, tirando de dentro um pano tendo em todo o
comprimento e largura pintadas todas as qualidades de pássaros, peixes e
animais.
Todos se admiraram de ver um pano assim, e
foram de acordo que a coroa pertencia a Nestor.
Todavia, o rei desta vez ainda não quis
ceder, dizendo:
— Meus filhos, é a última experiência que
faço. De bom grado daria o meu reino a meu filho mais moço, que é o que se tem
saído melhor em suas aventuras, porém acho que um homem solteiro não governa
bem um reino tão importante como é o meu. Por isso dou-vos um ano de prazo para
trazer a mulher mais bonita que encontrardes. Aquele que trouxer a que mais me
agradar, será o rei meu substituto, e casar-se-á com a moça. Quero gozar a
minha velhice cercado de netinhos.
Os três príncipes saíram do castelo, indo
Nestor, no seu cavalo-de-pau, em direção ao palácio da gatinha.
Chegando ali contou-lhe qual a incumbência
que o pai lhe fazia, dizendo achar ser impossível consegui-lo.
— Não, príncipe, eu te ajudarei no que puder.
Talvez saiba de alguma moça formosa, que queira ir em tua companhia.
— Não, minha gatinha, estou disposto a não
voltar mais ao palácio; e peço-te o que já pedi uma vez: amo-te muito, e o meu
maior desespero é ficar sem tua companhia.
— Não penses nisso, príncipe. Cuidemos do
meio de fazer a vontade a teu pai, e, enquanto não o encontramos,
divirtamo-nos.
Passou o príncipe mais de um ano no palácio
da gatinha, e já estava esquecido do que viera ali fazer, quando um dia lhe
disse a sua amiga:
— Meu caro príncipe, é depois de amanhã que
deves ir ao palácio do rei, com a moça que levarás, e previno-te que arranjei
uma, linda como os amores.
— Pois eu, minha gatinha, desisto de tudo,
porque uma das condições que meu pai apresentou foi aquele que levar a moça
mais bonita casar-se com ela, e eu não quero deixar de gozar a tua preciosa
companhia.
— Não, príncipe Nestor, deves fazer o que te
digo, que é para teu bem, e talvez para o meu. Arranjei a moça que procuras,
mas é preciso um sacrifício de tua parte, para levá-la.
— Dize-me qual é, que o farei, uma vez que é
para meu benefício, e talvez para o teu, como dizes.
— Só terás a moça, que é de uma beleza nunca
vista, se me cortares a cabeça e a cauda, e as jogares no fogo.
— Isso não, gatinha: prefiro morrer,
abandonar todos os reinos da terra, a ter que fazer tal barbaridade.
— Mas olha que é preciso; e se me tens a
amizade que dizes, faze o que te peço de joelhos, que é para meu benefício.
— Pois bem, fá-lo-ei, se jurares que nada te
acontecerá.
— Garanto-te que até serei mais feliz.
Nestor fez o que lhe disse a gatinha.
Com a mão trêmula pegou num facão, que ali
aparecera por encanto, e de olhos fechados cortou-lhe a cabeça e o rabo.
Quando abriu os olhos, ficou deslumbrado.
Em sua frente estava uma moça de uma beleza
extraordinária, que lhe disse:
— Obrigada, príncipe, pelo serviço que acabas
de me prestar. Estou às tuas ordens, para irmos ao palácio del-rei teu pai. Sou
uma princesa, transformada na gatinha que conheceste, por uma fada má, inimiga
da minha madrinha, a fada Beleza. Só me desencantaria quando um príncipe me
amasse no meu invólucro de gata, e me matasse. Salvaste-me, e hoje sou a rainha
Maroca, senhora de seis reinos. Vamos ter com teu pai que, estou certa, não me
recusará como nora.
O príncipe estava estupefato ante um fato tão
estranho, e em frente de um formosa mulher, tão linda como nunca vira nem em
sonhos.
Maroca mandou que seus vassalos, que eram os
antigos gatos, também desencantados, preparassem a carruagem que os devia levar
ao reino do pai do príncipe Nestor.
Era um lindo carrinho puxado por dez mil
casais de pombos brancos, atrelados por cordões de ouro, onde, de espaço a
espaço, havia um brilhante do tamanho de um grão de milho.
Quando os dois jovens chegaram ao palácio do
rei, foi uma surpresa geral.
Os dois irmãos de Nestor não quiseram mostrar
as suas noivas, envergonhados, embora fossem formosíssimas.
O rei, vendo aquela mulher com seu filho, lhe
disse:
— Agora, meu querido filho, tens o direito à
minha coroa, e estimo-o bem, vendo que vou ter uma nora como não há igual. Só
ela vale todos os reinos que existem.
— Real Majestade, disse a rainha Maroca,
desculpai se não aceitamos a vossa coroa. Pretendemos somente o vosso
consentimento para nos casarmos. Podeis ficar com o vosso reino, e com mais um,
que vos ofereço. Os meus cunhados serão reis de dois reinos, também meus,
desanexos da minha coroa, porque nos bastam, a mim e ao príncipe Nestor, três
reinos que governaremos em boa harmonia.
O rei ficou contentíssimo com o que acabava
de ouvir.
Efetuaram-se os casamentos dos três príncipes
irmãos, no mesmo dia, com as maiores pompas que têm havido em casamentos de
príncipes.
Cada um dos três príncipes foi tomar conta
dos seus reinos, ficando satisfeitos e vivendo felizes por muito tempo.
---
Ano de publicação: 1896.
Origem: Brasil (Reconto)
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)
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